Assegurar que a granja atenda aos procedimentos necessários em termos de Boas Práticas de Produção (BPP) significa muito mais que obedecer à legislação vigente. De acordo com a pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves, Sabrina Castilho Duarte, as chamadas medidas de biosseguridade trazem ganhos na produção e no desempenho das aves, aumento nos lucros para o avicultor e garantia de saúde aos consumidores.

A pesquisadora, que é doutora em Ciência Animal na área de Medicina Preventiva e pós-doutora em Ecologia Química e Desenvolvimento de Estratégias de Controle de Vetores, palestrou sobre “Boas Práticas de Produção em Postura Comercial”, durante o primeiro módulo do Programa Anual de Capacitação dos Avicultores – Qualificaves para o setor de Postura Comercial, promovido pela AVES e Coopeavi, com o apoio da Embrapa, dia 26 de abril, em Santa Maria de Jetibá.

“Boas práticas são procedimentos que visam aumentar a eficiência, com maior rentabilidade, obtendo alimentos mais seguros, com menos riscos à saúde, de maneira sustentável”, esclareceu a doutora perante o auditório lotado de avicultores.

Sabrina explicou que, para atender às BPP, são necessários procedimentos estruturais e operacionais, entre os quais estão cuidados com a granja, com as pessoas, aves e ovos.

Cerca de isolamento, portão de acesso fechado, escritório de acesso, arco de desinfecção para carros, limpeza constante do ambiente, cuidado com a ração e a saúde das aves que chegam à granja, além do controle de roedores e moscas e até a retirada de árvores frutíferas na área externa foram tratados pela pesquisadora como medidas efetivas e necessárias.

No que se refere às pessoas na granja, ela indicou o uso de calçados e roupas apropriadas para entrada no ambiente. Já sobre os ovos, Sabrina reforçou que um ambiente limpo é fundamental. “Todos os custos para realojar, gastos com antibióticos, eliminação das aves tornam o valor final muito mais caro que investir em biosseguridade. Por isso, se o avicultor atende à legislação, então ele já está fazendo prevenção e realizando boas práticas. Itens como existência de cercas, obrigatoriedade de controle da Salmonella e cloração na água já estão previstos nas Instruções Normativas do Ministério da Agricultura, já outros, como a sala de ovos, não. São orientações”, explicou a doutora.

Algumas orientações de Boas Práticas de Produção

* Cerca de isolamento ao redor da granja: com altura definida e base que não permita entrada de animais por baixo, pois podem trazer microorganismos;

* Portão de acesso fechado: a fim de evitar a entrada de animais e pessoas não autorizadas;

* Retirar árvores frutíferas ao redor da granja: com objetivo de diminuir a presença de pássaros próximo ao galpão;

* Escritório de acesso: sendo a primeira barreira para entrada na granja e o local de organização de documentos, e troca de roupa para acesso ao núcleo.

* Arco de desinfecção para veículos: desinfetar toda a superfície do veículo, tanto na entrada como na saída. Trocar periodicamente o desinfetante. Se possível, proibir entrada de veículos e abastecer os silos pelo lado de fora;

* Limpeza e desinfecção: retirar a sujeira (matéria orgânica) com água e sabão antes de passar o desinfetante. Caso contrário, as bactérias podem criar uma espécie de biofilme, capaz de esconder os microorganismos;

* Controle de roedores, ácaros e moscas: realizar monitoramento, evitando criar ambientes propícias com alimento, abrigo e água para essas pragas se proliferarem;

* Cuidados com as pessoas: lavar as mãos é essencial e usar roupas específicas para entrada na granja;

* Cuidados com as aves: manter a ração em local limpo e organizado. Clorar a água e usar antibióticos somente sob indicação do médico veterinário, quando necessário. Verificar se as aves estão chegando com saúde à granja. Dar destino correto às aves mortas;

* Cuidados com os ovos: não limpá-los com tecidos ou panos úmidos, pois isso acaba retirando a camada que protege o ovo da entrada de microorganismos. Se possível, criar uma sala de ovos, com ambiente limpo, para manter os ovos.

Projeto da Embrapa trouxe assessoria técnica a avicultores

No mesmo módulo do Qualificaves Postura Comercial, o público pode entender na prática os benefícios da adoção de Boas Práticas de Produção a partir da palestra “Resultados do Projeto Boas Práticas na Produção de Ovos na Coopeavi”, ministrada pelo pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, João Dionísio Henn.

“Um dos objetivos do projeto, que encerra um ciclo de três anos neste mês de agosto, é divulgar e sensibilizar os produtores, técnicos e todos os envolvidos na cadeia de produção de ovos sobre a incorporação de boas práticas em suas produções, identificando possibilidades e soluções para diversas situações”, explicou João, que junto da equipe do projeto, realizou visitas periódicas às granjas participantes.

Doutor em Produção Animal e especialista em Gestão do Agronegócio, João explicou que o trabalho consistiu em planejar, executar e comprovar as ações realizadas. Para ilustrar, utilizou como exemplo a granja do avicultor Solimar Berger, de Garrafão, Santa Maria de Jetibá.

“Foram tomadas algumas medidas e feitos formulários, anotações e análises dos dados, a fim de que as informações sobre as ações desenvolvidas sejam de fato úteis para tomara de decisões”, complementou o pesquisador.

O proprietário da granja, Solimar Berger, confirmou a importância das boas práticas, especialmente o hábito de anotar e não confiar simplesmente na memória. “Quando alguém chegava na granja a gente não sabia como mostrar os resultados. Agora, esses registros facilitam se, lá na frente, for necessário tirar alguma dúvida”, esclareceu.

Para o avicultor Manfredo Krüger, as BPP se tornarão em breve um nicho de mercado consolidado, com ganhos reais para os produtores. “Tudo isso precisa ser explorado na hora da venda com valor agregado. O consumidor entende, mas é necessário mais divulgação, como está sendo feito aqui”, defendeu.

Entre os procedimentos adotados no projeto estão: controle do fluxo de pessoas, veículos e materiais, controle zootécnico, gestão da água, limpeza e higiene rotineiras, compostagem de galinhas mortas, controle de moscas e manejo de esterco; ectoparasitas, manejo sanitário do lote, ambiência, descarte de galinhas em final de lote, desinfecção, gestão financeira da granja e treinamento de colaboradores.

Agregar valor é o desafio

De acordo com o gerente executivo de Produção da Coopeavi, Luiz Carlos Brandt, o principal desafio quando se trata de Boas Práticas de Produção é o reconhecimento, por parte do consumidor, de todo o processo.

“Quando isso acontecer, teremos mais valor agregado e, com isso, o desenvolvimento de uma cultura de produção nos produtores. Hoje, os ganhos vêm ainda de forma indireta, na redução de ovos perdidos e ou na menor perda de ração”, garantiu Luiz.

Segundo ele, ações como o Qualificaves, realizado em parceria com a AVES, correspondem à missão que a Coopeavi tem de viabilizar soluções para seus associados em termos econômicos, mas também de qualidade da produção.