Sexta, 19 Fevereiro 2016 14:57

MILHO, A NOVA PREOCUPAÇÃO DA INDÚSTRIA DE CARNES

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A recente onda de alta nas cotações do preço do milho evidenciou um desafio que já vem preocupando a indústria brasileira de carnes nos últimos anos: a elevação do custo de produção das carnes de aves e suínos. E, mais importante que o aumento do custo em si, é a incerteza da volatidade do mercado brasileiro de milho frente ao aumento da demanda internacional pelo cereal brasilerio. Há 10 anos a principal preocupação da indústria de carnes estava relacionada com a produção de milho, em que muitas vezes desestimulados pelo preço os produtores reduziam consideravelmente a àrea plantada. A exportação do grão amarelo estava longe do desempenho da pérola dourada da soja. Tudo mudou. A produção quase triplicou, puxada pelo aumento da segunda safra que cresceu no rastro da soja, e o milho brasileiro agora é disputado no mercado internacional.

Na safra 2005/2006 o Brasil produziu 31,9 milhões de toneladas, enquanto na safra a ser colhida, 2015/2016, a estimativa é de uma produção entre 83 e 88 milhões de toneladas segundo as estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e consultorias privadas. Neste período, maior que o aumento da produção foi o aumento das vendas externas e da participação do produto brasileiro no mercado internacional. Em 2005, o Brasil foi responsável por 6% das exportações mundiais de milho, com o embarque de 4 milhões de toneladas para o exterior. Uma década mais tarde o país já respondia por 18% do total das compras internacionais do cereal, e em 2015 vendeu 28,9 milhões de toneladas de milho no mercado externo.

O Brasil se tornou um dos principais fornecedores de milho para o mundo, e é sempre procurado por países que muitas vezes veêm suas safras frustadas por problemas climáticos, como é o caso da África do Sul, que neste ano vai precisar comprar 6 milhões de toneladas de milho no mercado internacional devido à uma estimativa de queda de 25% na sua produção em razão da seca, ou mesmo por países que por problemas políticos querem trocar de fornecedor, como é o caso da Rússia, que na semana passada (15/02) anunciou que suspenderia temporariamente a compra de soja e milho dos Estados Unidos e já estuda a vinda de uma missão para avaliar o mercado brasileiro. Mais recentemente a desvalorização do real frente ao dólar aumentou a competitividade dos grãos brasileiros no exterior.

Independente das razões, fato é que o preço do milho aumentou 52% entre janeiro de 2015 e janeiro de 2016. Em janeiro do ano passada a saca de 60 quilos de milho teve cotação média de R$ 27,40 no índice ESALQ/BM&FBovespa, e em janeiro desse ano o preço médio ficou em R$ 41,65 a saca, com máxima de R$ 43,44 no meio do período. A escalada no preço do principal insumo das rações de aves e suínos se deu a partir de julho, quando os embarques externos aumentaram consideravelmente em razão do câmbio extremamente favorável aos compradores internacionais. O aumento foi tão forte que influenciou o resultado do Índice Geral de Preços-10 (IGP-10) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A alta do milho atingiu 20,01 % no IGP-10 de fevereiro contra um aumento de 4,90% no IGP-10 de janeiro, e foi o produto que mais influenciou o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), chamado de inflação do atacado.

Logicamente que todo esse movimento das cotações acendeu a luz vermelha da indústria de aves e suínos para um problema ainda mais grave que o aumento das cotações: a logística do grão dos centros de produção aos centros de consumo. O presidente da Aurora, Mário Lanznaster, sentenciou que “só ferrovia impedirá a migração das indústrias em Santa Catarina”. Os números são realmente alarmantes. Anualmente, de acordo com o dirigente da terceira maior indústria de aves e suínos do Brasil, é necessária a transferência de mais de 3 milhões de toneladas de milho do Brasil central para os estados do Sul somente para o abastecimento das indústrias. São mais de 100 mil viagens de carretas que percorrem mais de 2 mil quilômetros entre a produção de milho de Goiás e Mato Grosso, e o consumo de ração em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.

O cenário do milho mudou em 10 anos, mas as políticas públicas para os setores de carnes que dependem exclusivamente de ração continuam exatamente iguais. Não se resolve um problema novo com os remédios antigos. É necessário priorizar uma política para os setores de produção de carne, que certamente vai ser o complexo produtivo que mais vai aumentar sua participação na produção e nas exportações do agronegócio brasileiro. Enquanto a exportação de uma tonelada de grãos rende ao Brasil entre US$ 200,00 e US$ 400,00, uma tonelada de carnes gera 10 vezes mais divisas ao ser comercializada entre R$ 2 mil e US$ 4 mil  no mercado externo. Num momento de queda no preço dascommoditieso país não pode se dar ao luxo de colocar em risco a indústria que mais agrega valor aos seus grãos.

Fonte: Blog do Coser