História da Avicultura

A avicultura tem desempenhado um importante papel sócio-econômico no Brasil nas três últimas décadas. Desde seu surgimento e aperfeiçoamento para fins comerciais, a atividade vem desenvolvendo técnicas aprimoradas nos campos genético, operacional e de planejamento que hoje possibilitam ao País o alcance de patamares de liderança setorial no cenário globalizado em que se insere. Este fato pode ser facilmente verificado através de estudos internacionais, os quais demonstram o forte crescimento da atividade avícola brasileira, especialmente no aspecto produtividade, sendo que um dos maiores benefícios identificados é a criação e manutenção de milhares de empregos no meio rural e no setor agro-industrial periférico de grandes centros urbanos, além da oferta de carne a um custo mais acessível para a população. Ressalta-se que em todos os estudos já realizados é possível destacar a forte vinculação entre a avicultura e outros setores rurais que sobrevivem em função desta atividade.

 

No Estado do Espírito Santo, pode-se dizer que o setor é vital para o desenvolvimento e reestruturação de todo o setor agrícola capixaba. Desde sua profissionalização nos anos 50 e 60 a atividade tornou-se não apenas uma opção de geração de trabalho e renda no interior, mas também uma grande catalisadora da economia rural capixaba na medida em que seus resíduos e produção de insumos alimentam economicamente outros sub-setores também importantes como a produção hortifruticultora e a indústria de embalagens.

 

Em meados dos anos 70 já haviam no Estado unidades criadoras (granjas) consideradas de médio e grande porte para a época, sendo que a partir deste período foram intensificados alguns investimentos diretos característicos de empreendimentos profissionalizados. Passou-se, desta forma, à obtenção de melhores resultados operacionais em função da utilização de técnicas de manejo experimentadas cientificamente.

 

Este avanço, contudo, careceu de uniformidade e planejamento adequado em relação ao domínio da cadeia produtiva resultando em crescimento desfocalizado do contexto mercado.

 

Considerando a ótica de empreendimentos agro-industriais modernos, os produtores apenas aumentavam sua capacidade de produção da ave viva ou de ovos de mesa sem se preocupar com os ganhos de escala e com as regras de uma praça de distribuição altamente competitiva. Na verdade, uma vertente acreditava que o aumento da demanda por seus produtos, na condição em que se encontravam, compensaria quaisquer outros tipos de investimentos.

 

No sul do País, enquanto isso, os produtores se dispunham a aplicar, primeiramente, as melhores técnicas de manejo nos plantéis já existentes visualizando a atividade como empresa profissional geradora de lucros e unificando toda a cadeia de produção a partir de um planejamento conjunto (integrações e cooperativas). Na visão dos produtores capixabas, acostumados em desconsiderar os avanços das tecnologias de produção, os ensaios de planejamento conjunto seriam desnecessários e de difícil implantação face à diversidade de interesses verificados. Resultado: nos anos 80 nossos avicultores já sofriam a concorrência aberta de produtores do sul do País que começavam a colher frutos de suas iniciativas, as quais resultaram inclusive em alterações no formato de consumo da população (frango em cortes, empanados, etc.).

 

Combalidos pelos números, produtores aqui localizados e com melhor disponibilidade de recursos financeiros começaram a investir e aprimorar sua operação, construindo instalações capazes de processar sua produção própria como fábricas de ração, pequenos abatedouros etc. Novos métodos e técnicas foram buscados e introduzidos no setor permitindo que os lotes produzissem mais precocemente ovos e aves prontas para abate.

 

Estas iniciativas colocaram a atividade avícola estadual, num primeiro momento, em condições igualitárias com a produção dos demais estados das regiões Sudeste e Sul.

 

Entretanto, um outro fator ainda pesava de forma contrária a um melhor desempenho: a aquisição de insumos como milho e soja.

Verificou-se que o Estado não apresentava produção suficiente desses componentes para suprir a demanda da atividade avícola, bem como outras como a suinocultura. Neste caso a compra em estados produtores dos mesmos era onerosa em função dos fretes pagos, porém, mesmo assim, havia certo equilíbrio de preços finais em razão dos custos também serem altos para se trazer os produtos acabados do sul para o Espírito Santo.

 

Esta situação medianamente equilibrada proporcionou aumento da produção interna de aves e ovos, a qual ultrapassou largamente a demanda estadual, surgindo a necessidade de busca de outros mercados para venda dos produtos capixabas. Desta forma passou-se a exportar (especialmente frangos vivos para o Rio de Janeiro e sul da Bahia), sendo que, no início dos anos 90, a produção de frango proporcionava resultados positivos aos produtores que, embora de pequeno porte, possibilitavam sua permanência ativa no setor. Porém, ainda a partir da primeira metade da década de 90, os estados de maior concorrência com o Espírito Santo começaram a direcionar sua produção para o mercado internacional e a receber incentivos fiscais para construção de novas unidades de abate e modernização de parques granjeiros. Ao mesmo tempo, intensificaram a congruência de interesses na verticalização de seus empreendimentos. Isso fez com que seus produtos finais aqui chegassem com preços ainda mais baixos em função dos ganhos de escala.

 

A partir dessa realidade a atividade avicultora estadual atravessou sucessivas crises em face da impossibilidade de competição em termos igualitários.

 

Desatendidos pela mesma condição de incentivo fiscal utilizada em outros estados, ou seja a utilização de créditos de ICMS para modernização e ampliação de estruturas de produção e vitimados por custos de transporte de insumos cada vez mais altos, muitos avicultores não suportaram e deixaram a atividade. Isso fez com que os números finais da produção fossem reduzidos em 40% num período médio de 5 anos.

 

Deve-se registrar, contudo, que a atividade avícola não desapareceu por completo em face da inclusão dos produtores capixabas em programas federais de compensação de montantes pagos por fretes, cujo objetivos se concentram na premissa de equilibrar os preços dos insumos nas diferentes praças produtivas do País (programas VEP e PEP).

 

Fonte: AVES