Terça, 25 Abril 2023 09:43

Nanotecnologia deve melhorar relação da avicultura com antibióticos, aponta pesquisador

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Com o propósito de auxiliar o crescimento, bem como atenuar a população de patógenos no intestino das aves, fortalecendo a absorção dos nutrientes para um bom sistema de produção, os antibióticos são muito utilizados na produção de ovos e da carne de frango. Entretanto, cada vez mais, essa prática está sendo utilizada de forma mais consciente e eficaz, reduzindo a utilização e também acrescida de novas alternativas tecnológicas que prometem aprimorar o desempenho da produção e possibilitar uma maior biosseguridade.

 

Uma das novas possibilidades é a utilização da nanotecnologia na produção de aves. Isso porque as nanopartículas possuem tamanho maior do que as moléculas e átomos, porém, são menores que as bactérias. Essa característica é o que vem atraindo os pesquisadores porque controlando o tamanho do material, quando introduzido na produção animal, apresentam potencial para aumentar as respostas em várias frentes, como a resposta imune de vacinas, a absorção de nutrientes e a eficácia de fármacos.

 

Durante o 23º Simpósio Brasil Sul de Avicultura (SBSA), que aconteceu de 04 e 06 de abril, o pesquisador da Embrapa e médico-veterinário Humberto de Mello Brandão fez a palestra nanotecnologia contra a resistência bacteriana a antibióticos. O pesquisador em entrevista ao jornal O Presente Rural, destacou que a nanotecnologia é uma ciência multidisciplinar e transversal e que pode ser utilizada de diversas formas, sendo que todas elas possibilitam maior eficácia na produção de carne de frango.

 

O palestrante ressalta que o uso da nanotecnologia é uma possibilidade para diminuir o uso dos antibióticos e para tornar esta utilização desse grupo de moléculas mais eficaz. “Os antibióticos são ferramentas muito importantes no processo de produção animal, dificilmente eles serão completamente extintos do sistema produtivo de carne e ovos. Entretanto, o que é necessário é que esse grupo de medicamentos seja utilizado de forma apropriada, com segurança e boa prescrição, pois as bactérias querem sobreviver, e por isso procuram novos mecanismo de adaptação. A batalha entre humanos e bactérias será eterna, por isso temos que usar nossas armas da forma mais eficaz”, destaca.

 

Bactérias resistentes

O pesquisador adverte sobre a importância de ficar atento à ocorrência da resistência bacteriana a antibióticos. “Existem dois mecanismos de seleção de bactérias multirresistentes. Uma lembra muito a forma clássica de seleção que é feita com os animais. Nela, você coloca uma pressão de seleção, que consiste em aplicar pequenas doses de antibiótico e, desta maneira, as colônias de bactérias mais resistentes acabam sobressaindo sobre as demais populações bacterianas. Com o tempo teremos uma grande população de bactérias resistentes ao antibiótico utilizado. Via de regra, as pessoas tendem a achar que este é o mecanismo mais comum de seleção de bactérias resistentes. Porém, ele não é o único e em muitas situações nem o mais importante. No caso de bactérias, existe o mecanismo de seleção de bactérias multirresistente por transmissão horizontal, de forma simplista, é bastante comum quando a bactéria morre ou ela libera uma vesícula contendo um pouco de DNA e as vezes este conteúdo de DNA leva a um gene de resistência a determinado antibiótico de uma bactéria para outra. Este processo pode ocorrer dentro da mesma espécie ou interespécies de bactérias. Assim, aquela bactéria que morreu deixou ali um DNA contendo um gene de resistência e este DNA, em condições muito especiais, pode ser incorporado em uma outra bactéria que não era resistente”, explica.

 

Nanotecnologia e avicultura

A nanotecnologia pode ser uma grande aliada na avicultura porque ela permeia diferentes atividades na cadeia avícola. “A nonotecnogia pode ser usada para desenvolver sensores que podem ser usados dentro dos galpões, também é possível desenvolver biossensores para detectar doenças de forma muito rápida e in loco, diagnosticando enfermidades de forma mais rápida e precisa. Aqui na Embrapa trabalhamos muito com a liberação controlada de princípios ativos fazendo o uso da nanotecnologia. É possível ainda desenvolver vacinas com nanotecnologia, além da liberação controlada de antibióticos, fazendo o direcionamento deste fármaco e, com isso, aumentando sua eficácia e diminuindo a quantidade de resíduo”, informa.

 

“Quando eu faço o uso da nanotecnologia eu tenho a opção de ter novas partículas com a ação antimicrobiana, como por exemplo nanopartícula de prata ou de cobre. Elas têm ação antimicrobiana e podem ser usadas junto com o antibiótico normal. Associando os dois temos um efeito sinérgico, você consegue trabalhar com um princípio ativo que as vezes está desgastado (as bactérias já possuem resistência) e que adicionado a uma nanopartícula metálica tem seu efeito antimicrobiano rejuvenescido. Isso chamamos de efeito sinérgico que possibilita um ganho terapêutico enorme”, afirma.

 

A grande vantagem em dinamizar os antibióticos clássicos está na possibilidade de liberação gradativa do medicamento. “Quando você usa uma nanopartícula você começa a liberar gradativamente o fármaco, então, automaticamente eu tenho uma liberação sustentada deste antibiótico, quando eu tenho uma liberação sustentada é possível conseguir uma concentração do medicamento mais constante dentro do sistema circulatório do animal, isso reduz a mão de obra na propriedade e aumenta a eficácia do medicamento”, declara.

 

Outro mecanismo que as nanopartículas possibilitam é o uso direcionado do antibiótico. “Quando você associa a nanopartícula com o antibiótico, você altera a biodistribuição do fármaco. Nesse caso você consegue fazer o direcionamento do antibiótico para o local da infecção. Com isso conseguimos alcançar altas concentrações do fármaco, enquanto que nos tecidos periféricos trabalhamos com dosagens mais baixas que as que ocorrem com o fármaco convencional. A consequência é que para o tratamento de uma mesma enfermidade verificamos que você vai gastar menos antibiótico e terá o mesmo efeito”, informa.

 

O pesquisador também cita duas outras vantagens. Uma diz respeito ao menor número de excreções de medicamento nas camas dos animais e a outra vantagem está relacionada com a proteção deste antibiótico contra substâncias que poderiam degradá-lo perifericamente. “Por exemplo, se você encapsular um betalactâmico você consegue protegê-lo contra a ação de lactamases bacterianas. Com isso você consegue melhorar a eficácia deste fármaco contra as bactérias resistentes”, explica.

 

Redução da resistência

O pesquisador aponta que estudos mostram que a nanotecnologia pode ser aplicada para dificultar a seleção de bactérias resistentes. “Hoje temos dados e ampliamos muito o escopo de ensaios clínicos com um bom volume de dados. Esses números mostram a grande potencialidade que temos com o uso da nanotecnologia. Neste momento, vemos uma grande oportunidade e acreditamos que agora é só uma questão de ajuste de mercado para que esta tecnologia chegue ao produtor. Também acreditamos que seu uso será muito natural e que logo os produtores utilizarão medicamentos nanoestruturados e muitos nem saberão que eles contêm nanopartículas”, opina.

 

Em tempos cada vez mais de restrição a antibióticos na produção de aves, o uso das nanotecnologias faz sentido porque elas buscam inovar melhorando o uso dos antibióticos que muitas vezes já são utilizados na rotina. “Cada vez mais precisamos difundir o uso consciente e estratégico dos antibióticos. Acredito que nunca vamos deixar de usar esses medicamentos, sendo que a nanotecnologia veio para ser um auxílio, pois ela possibilita o uso de antibióticos de forma mais eficiente e, em alguns casos em doses mais baixas. Desta maneira, nanotecnologia permite uma resposta terapêutica adequada com uma concentração mais baixa de antibióticos por quilo de carne ou ovos produzido”, sustenta.

 

Fonte: O Presente Rural