Terça, 20 Fevereiro 2024 16:14

Produção de ovos cresce no Espírito Santo e atinge 4,5 bilhões de unidades em 2023

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Após enfrentar uma alta nos custos dos insumos e as preocupações com a influenza aviária, o setor de avicultura capixaba está em recuperação. É o que aponta a Associação dos Avicultores do Espírito Santo (Aves). Em 2022, a produção estadual de ovos atingiu a marca de 4,35 bilhões de unidades. Esse desempenho evoluiu para 4,55 bilhões em 2023, um aumento de 4,6%, o equivalente a 200 milhões de ovos a mais. Ao encerrar o ano de 2023, a produção diária ficou em 12,7 milhões de ovos. Conversamos com o diretor executivo da Aves, Nélio Hand, para trazer uma retrospectiva do cenário avícola no ano passado e as perspectivas para 2024.

 

Espírito Santo produz diariamente 12,7 milhões de ovos

 

Em 2023, o setor de proteína animal enfrentou desafios significativos, marcando um ano de tentativas de recuperação para os segmentos de frangos, ovos e suínos. A crise nos setores de avicultura e suinocultura foi provocada, especialmente, pelo aumento nos custos dos insumos desde 2020, somado a outros fatores como a demanda global de alimentos, as flutuações cambiais internas e, mais recentemente, os conflitos em países europeus.

 

O ano também foi de preocupação no contexto sanitário, com destaque para a suinocultura, onde o setor tem enfrentado desafios no controle da peste suína clássica no nordeste brasileiro. Na avicultura, a apreensão estava relacionada à influenza aviária,

com os primeiros casos brasileiros confirmados no Espírito Santo.

 

Foram registrados 30 casos em aves silvestres e um caso em ave doméstica. A doença já tinha sido identificada em anos anteriores em países da América do Norte e América do Sul.

 

No estado, as granjas não foram impactadas porque o setor de avicultura intensificou as medidas de biossegurança para evitar a disseminação do vírus. Nesta semana, o estado prorrogou por mais seis meses o decreto que estabelece o estado de emergência zoossanitária por conta da gripe aviária.

 

Agro Business: Como a produção avícola evoluiu ao longo de 2023 no Espírito Santo?

 

Nélio Hand: A produção de ovos no Espírito Santo experimentou uma recuperação significativa de aproximadamente 4,6% entre janeiro e dezembro de 2023. Este aumento resultou em uma produção diária de cerca de 12,7 milhões de ovos, um número que, apesar da recuperação, ainda está abaixo do pico alcançado em 2020, quando produzimos 16 milhões de ovos por dia.

 

O ano de 2020 marcou um período de crise relacionada ao custo de insumos, a chegada da pandemia da Covid-19, crise global e câmbio, fatores que geraram um alto custo de produção e defasagem na produção de ovos.

 

Em relação aos suínos, são abatidos mensalmente 2.200 toneladas de carne suína, aproximadamente 26 mil cabeças de suínos por mês. A produção de frango gira em torno de 10.500 toneladas mensais, representando um abate mensal de cerca de 4.800 milhões de frangos.

 

AB: Quais foram os municípios que mais se destacaram na produção de ovos em 2023?

 

NH: Em 2023, a produção de ovos teve destaque em diversos municípios do Espírito Santo, com Santa Maria de Jetibá liderando como o maior produtor. Impressionantes 92% da produção de ovos concentra-se em Santa Maria de Jetibá, seguido por 1,7% em Santa Leopoldina, 1,6% em Santa Teresa, além dos municípios de Domingos Martins e Venda Nova do Imigrante.

 

Santa Maria de Jetibá mantém sua posição como o maior município produtor de ovos do país, uma característica de grande relevância. Em termos nacionais, o Espírito Santo contribui com mais de 9% da produção brasileira de ovos, sublinhando a importância da produção de ovos em nível nacional e as preocupações sanitárias associadas.

 

A produção capixaba de ovos atende principalmente ao mercado nacional. No Espírito Santo, 41% dos ovos produzidos no estado são destinados ao Rio de Janeiro, enquanto o próprio Espírito Santo absorve apenas 21%, em razão do volume produzido. É importante ressaltar que a produção capixaba supre integralmente o mercado local. Além disso, a Bahia absorve 23% da produção, Minas Gerais contribui com 9%, e os demais estados representam uma parcela menor. Ao somar esses estados (ES, RJ e MG), observamos que eles recebem conjuntamente 71% da produção capixaba.

 

AB: Qual foi o cenário para a produção de frango de corte no mesmo período?

 

NH: Se analisarmos a produção de frango, a situação é mais crítica. Tivemos uma queda de cerca de 10% nos alojamentos de frangos de corte e pintos de corte entre janeiro e dezembro de 2023. Em 2022, foram produzidas aproximadamente 11,4 mil toneladas de frango por mês, enquanto em 2023 esse número deve girar em torno de 10,5 mil toneladas por mês.

 

Observamos uma redução nos alojamentos recentemente, e ao compararmos com anos anteriores, em 2023, tivemos 4,8 milhões de unidades de pintinhos de corte alojados. Em 2021, chegamos a ter 5,530 milhões de pintinhos alojados. Atualmente, enfrentamos uma queda de 13% na produção em comparação com 2020 e 2021, seguindo a mesma tendência de redução na produção.

 

AB: Quais são os principais fatores que contribuíram para a defasagem no setor de proteína animal?

 

NH: Já abordei a questão dos custos, e ao mesmo tempo, no caso do frango de corte, não houve uma recuperação adequada nos preços de venda. Falando em preços, para ter uma ideia, em dezembro de 2020, o preço do quilo do frango para a indústria fechou em torno de R$ 9, mas chegamos a patamares de R$ 7 por volta do ano de 2023. Isso representa prejuízos para o segmento de frango de corte.

 

No caso dos ovos, houve uma evolução um pouco melhor, mas com uma oscilação significativa. Em janeiro de 2023, tínhamos um preço defasado na caixa com cerca de 30 dúzias de ovos em torno de 128 reais, e chegamos a vender a 206 reais. Hoje, essa mesma caixa de ovos está a 135 reais.

 

A variação de preços existente é muito abrupta no mercado em geral, causando grande insegurança para o setor, seja de frango de corte ou postura comercial, principalmente por conta dos altos custos dos insumos, como milho e soja, que são os principais insumos de produção da ração, ou pela flutuação do mercado. A variação de preços prejudica significativamente o setor, pois não há linearidade entre esses preços e custos.

 

AB: Como os preços foram afetados?

 

NH: Iniciamos o ano de 2023 com uma saca de milho custando 93 reais, chegamos a 62 reais em junho de 2023, e hoje, em janeiro de 2024, estamos com custos em 90 reais a saca. Muitos fatores estão gerando insegurança para o segmento de proteína animal. No caso de frangos e ovos, em muitos casos temos insumos com custos muito altos e depois temos preços de venda do produto final muito baixos. Isso provocou insegurança e foi o que causou essa mudança nos setores, com queda na produção, redução dos alojamentos e até a saída de produtores da atividade em meio à crise mundial no setor.

 

O que podemos destacar do panorama do setor de produção de ovos e frango é que foi um ano de tentativas de recuperação, mas tivemos que conviver com variações muito abruptas, tanto nos custos de produção quanto nos preços de venda, o que, em alguns momentos, deixou o setor com margem negativa.

 

Em relação aos suínos, a produção se manteve, e os preços tiveram uma recuperação, proporcionando mais estabilidade aos preços finais. Embora o produtor não tenha trabalhado com margem positiva o tempo todo, no final do ano, a preocupação voltou devido aos altos custos de produção. No passado, os custos com milho chegaram a 93 reais, em determinado momento reduziram para 63 reais em junho deste ano, e agora, no início de 2024, estão 50% mais altos do que em junho, chegando a 90 reais. Esse cenário tem gerado apreensão no setor de suinocultura.

 

O que esperar da avicultura capixaba em 2024?

 

AB: O Espírito Santo registrou casos de influenza aviária em 2023, mas as granjas comerciais não foram afetadas por causa de medidas de biosseguridade adotadas pelo setor. Como o setor vem se preparando em relação à gripe aviária?

 

NH: O setor avícola brasileiro vem se preparando nos últimos tempos, mas principalmente quando ocorreram os primeiros casos na América do Sul. A avicultura brasileira tem redobrado a atenção com as medidas de biosseguridade das granjas, e as autoridades sanitárias têm trabalhado nos protocolos, orientações e no enrijecimento da biosseguridade das granjas comerciais e de produção em geral.

 

Conseguimos atravessar o período de 2023 com a avicultura comercial isenta da gripe aviária. Estamos em um período de calmaria, especialmente desde outubro, quando foi o último caso constatado no Espírito Santo e a nível Brasil. No entanto, isso não significa que o setor esteja relaxando ou se acomodando em relação a essa situação. Pelo contrário, as medidas de biosseguridade continuam sendo trabalhadas continuamente, com as autoridades reforçando as medidas do ponto de vista da legislação, buscando garantir a segurança de todos.

 

Embora não tenhamos certeza, a perspectiva é que a enfermidade possa voltar com mais vigor quando começar a ter um crescimento da migração das aves do Hemisfério Norte para o Hemisfério Sul, previsto para abril e maio. Isso acende o alerta novamente, colocando todo o setor em estado de atenção, especialmente com o risco desses casos, principalmente das aves silvestres de caráter migratório.

 

AB: Em relação às perspectivas para 2024. O que esperar do setor?

 

NH: Estamos vivenciando uma apreensão no setor, especialmente em relação aos insumos. Essa preocupação recorrente volta a assombrar o setor, com o milho no estado chegando a cerca de 90 reais a saca. Há uma perspectiva de aumento ao longo do ano devido a diversos fatores, incluindo a previsão de uma área menor para a produção de grãos, eventos climáticos como a seca e volumes elevados de grãos exportados.

 

Essa conjuntura deixa o setor temeroso, independentemente do segmento, seja frango, suíno ou ovos. A elevação dos custos leva o produtor a buscar uma receita maior para cobrir os gastos, mas, como já vivenciamos anteriormente, nem sempre ele consegue uma recuperação proporcional, gerando o receio de trabalhar novamente com prejuízos.

 

Outra preocupação é a questão sanitária, em particular, a influenza aviária. Como associação, estamos tomando medidas para orientar o setor e colaborar com as autoridades, como foi feita a prorrogação da legislação estadual que declara estado de emergência zoossanitária no Espírito Santo.

 

Por outro lado, o setor vem se esforçando para se recuperar na produção. Se as expectativas de altos custos de insumos e outros fatores se consolidarem, a evolução que observamos no alojamento de galinhas e na produção de ovos pode estagnar, e a redução registrada no alojamento do frango de corte pode persistir. São fatores que mantêm o setor em alerta.

 

A nível nacional, há uma perspectiva inicial de crescimento em torno de 6% no setor de ovos. O consumo per capita também apresenta uma perspectiva de aumento. Quanto ao frango, espera-se um crescimento nos alojamentos, chegando a 2% na produção nacional. Se conseguirmos seguir essa tendência positiva, é possível que os desafios mencionados em relação aos custos possam ser atenuados.

 

 

Matéria publicada na Coluna Agro Business, por Stefany Sampaio - Folha Vitória (publicado em 26/01/2024)

Última modificação em Quarta, 21 Fevereiro 2024 08:56