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Deixar gripe aviária se espalhar nos EUA pode devastar produção de aves e ovos
Publicado em: 24 Mar 2025

Em meio a um surto de gripe aviária e à recente detecção de mais uma cepa do vírus - a H7N9 - nos Estados Unidos, o secretário de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, Robert F. Kennedy Jr, sugeriu que avicultores e autoridades sanitárias deixem o vírus se espalhar para identificar quais animais seriam imunes. Especialistas ouvidos pela reportagem acreditam que a medida, se adotada, teria potencial para devastar a produção de frango e ovos dos Estados Unidos, além de elevar as infecções entre as espécies de aves e seres humanos.
No Brasil, as medidas de biosseguridade contra a entrada da doença seguem as mesmas e as chances de a cepa H7N9 - que não era identificada nos EUA desde 2017 - chegar ao solo brasileiros são consideradas menores que a já conhecida H5N1.
Na última semana, Kennedy Jr. afirmou em uma entrevista à imprensa local que os avicultores e autoridades federais "deveriam considerar a possibilidade de deixar que isso (gripe aviária) se espalhe pelos rebanhos, para que possamos identificar as aves e preservar as que são imunes a isso”.
A ideia contrasta com uma série de medidas e esforços financeiros de mais de US$ 1 bilhão que vêm sendo anunciados pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês) para combater a doença, mas não foi a primeira vez que esta hipótese foi cogitada por um membro do governo.
“Há alguns fazendeiros por aí que estão realmente dispostos a tentar isso em um piloto enquanto construímos o perímetro seguro ao redor deles para ver se há um caminho a seguir com imunidade”, disse Brooke Rollins, a secretária de Agricultura, à TV Fox News no mês passado, sobre deixar o vírus se espalhar.
Greg D. Tyler, presidente do Conselho de Exportadores de Frango e Ovos dos EUA (USAPEEC, sigla em inglês) disse que a estratégia devastaria o mercado americano.
"Nenhum país aceitaria nossos produtos ou nossa genética. Você só conseguiria movimentar produtos cozidos. Mais importante, você estaria permitindo que fazendas infectadas fossem fábricas de vírus", ressaltou o dirigente.
Haveria também a chance de aumentar os problemas de bem-estar animal, por permitir que cresça a taxa de mortalidade.
"Você colocaria mais vírus no ambiente, o que tornaria a disseminação mais provável. Você estaria expondo os trabalhadores a níveis mais altos de vírus, o que poderia resultar em mais casos humanos", acrescentou Tyler.
Dados do conselho mostram que as perdas de exportação nos setores de frango de corte, peru e ovos alcançaram cerca de US$ 1,99 bilhão entre fevereiro de 2022, quando começou o surto da gripe aviária no país, e novembro de 2024. Isso significa que o prejuízo é ainda maior, considerando que o vírus continua ativo.
Neste período, as perdas no mercado doméstico americano estão estimadas pela USAPEEC em US$ 6,44 bilhões, considerando os frangos, perus e ovos.
Segurança no Brasil
Para o Brasil, este cenário nos EUA e a chegada da cepa H7N9 em uma granja americana preocupam a avicultura global, mas os princípios de controle nas granjas e prevenção contra a doença não mudam.
"Biosseguridade segue como nossa principal estratégia para a proteção, seja pela prevenção ou eventual contenção. No caso do Brasil, que nunca registrou qualquer caso na avicultura industrial, os cuidados seguem redobrados", afirmou Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e líder também do Conselho Mundial da Avicultura (IPC, na sigla em inglês).
Luizinho Caron, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, explica que a cepa H7N9 tem mais casos registrados em seres humanos, enquanto a H5N1 se alastra com maior velocidade e atinge um número maior de animais mamíferos, por exemplo, além das aves.
Os sintomas são os mesmos com ambas as cepas, as aves apresentam sinais de problemas neurológicos, perdem a coordenação motora (não conseguem andar ou voar), podem ter diarreia, hemorragia e mortalidade.
De acordo com o especialista, o EUA são uma região propensa a ter um número maior de casos porque estão próximos de um polo de reprodução de aves aquáticas, como cisnes e marrecos, nos arredores do Alaska e do Canadá.
"Isso é um dos fatores que faz com que seja difícil que essa cepa chegue ao Brasil, estamos longe do local de reprodução", explicou Caron.
Sobre a possibilidade aventada pelas autoridades americanas, de deixar o vírus se espalhar, o especialista brasileiro é taxativo: "a possibilidade de causar um colapso da cadeia de abastecimento aumenta, tanto de carne de frango, quanto de ovos".
Nos EUA, a gripe aviária matou quase 170 milhões de galinhas poedeiras, perus e outras aves em um surto que começou em 2022. Os preços dos ovos atingiram recordes nos últimos meses, em grande parte devido à oferta limitada.
Apenas em 2025, 30,3 milhões de galinhas poedeiras foram abatidas, segundo dados do USDA. Humanos e vacas leiteiras também testaram positivo, e uma pessoa morreu.
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