Segunda, 26 Abril 2021 15:46

Com custo em alta, indústria de aves e suínos tenta elevar preço

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Espremida entre a forte alta de custos e a queda do poder aquisitivo dos consumidores, a indústria brasileira de aves e suínos espera encontrar espaço para reajustar os preços das carnes no varejo a partir da volta do auxílio emergencial pago pelo governo para parte da população, embora em valores menores que os do ano passado.
 
 

Nas gôndolas dos supermercados brasileiros, a carne de porco registrou alta de 26,6% no período de 12 meses encerrado em março, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Economia e Estatística (IBGE), e o frango inteiro subiu 14,4%. Mas, nos dois casos, as variações são bastante inferiores às observadas no atacado.

 

De acordo com indicadores do Cepea/Esalq/USP, o frango resfriado acumulou alta em 12 meses de quase 70% até sexta-feira no Estado de São Paulo, ao passo que o suíno vivo avançou impressionantes 123,6%. Segundo fontes dos frigoríficos, esses saltos indicam que novos reajustes nas prateleiras serão inevitáveis nos próximos meses, até porque não há sinais de que a pressão de custos vai diminuir tão cedo.

 

“A demanda interna está fraca e o consumidor está resistindo. Mas aumentos virão”, disse um executivo. “Só espero que o varejo faça a parte dele e também abra mão de margens para impulsionar as vendas”.

 

Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa grandes empresas como BRF e Seara (JBS), reconhece que o cenário doméstico piorou depois do fim do auxílio emergencial do ano passado, mas espera uma retomada, sobretudo nas vendas de carne de frango, com a volta do benefício.

 

Santin ressalva que, em geral, as contas dos frigoríficos de aves e suínos só não estão mais achatadas por causa das exportações, que continuam aquecidas - sobretudo as de carne suína, graças à forte demanda da China -, mas lembra que empresas de pequeno porte, regionais, já tiveram que reduzir os abates para tentar equilibrar as contas.

 

“No segmento de frango, temos clientes que já diminuíram em cerca de 10% as compras de rações para tentar se equilibrar. E nem todos estão conseguindo, sobretudo aqueles que não vendem para fora”, afirmou um executivo de uma grande companhia de nutrição animal que atua no país.

 

Como já informou o Valor, no primeiro trimestre, as exportações brasileiras de carne de frango somaram 1 milhão de toneladas, 1,4% mais que no mesmo período de 2020, e renderam US$ 1,6 bilhão, em leve queda, de 4,6%. Já os embarques de carne suína aumentaram 21,8% em volume, para 253,5 mil toneladas, e 22,5% em receita, para US$ 485 milhões.

 

Trata-se de um patamar historicamente elevado, e nessa frente as perspectivas continuam positivas. “Os embarques de carne suína estão muito bem e os de frango [que se mantiveram relativamente estáveis em 2020] têm registrado resultados melhores. Cresceram bem em março e deverão fechar abril em mais de 400 mil toneladas”, disse Santin.

 

É um alento para uma indústria que depende de grãos para as rações dos animais. No mercado interno, apontam indicadores do Cepea, a saca do milho dobrou nos últimos 12 meses, enquanto a da soja subiu mais de 80%. E, por mais que o governo tenha suspendido as tarifas de importação desses grãos de países de fora do Mercosul até o fim do ano, em uma tentativa de dar opções à indústria de aves e suínos, o fato é que as cotações em dólar estão em patamares muito elevados e não há espaço para grandes quedas nos próximos meses.

 

Com os preços nas alturas, o trigo, que pode substituir o milho em rações, virou uma esperança real. Segundo Santin, há na região Sul uma área de pelo menos 7 milhões de hectares que fica parada no inverno e pode servir para o plantio de trigo, desde que as cotações compensem como atualmente. O dirigente estima que, já nesta safra 2020/21, entre 150 mil e 200 mil hectares adicionais serão cultivadas com o cereal.

 

“Mas outras ações são necessárias. Precisamos de mais informações oficiais sobre comercialização de milho, como há nos EUA, e por aqui, tendo em vista a tendência de aumento das exportações, os frigoríficos terão que ampliar as compras antecipadas do grão se quiserem reduzir essa pressão”.

 

Fonte: Valor Econômico