Sexta, 03 Junho 2016 13:21

Preço baixo e alta de custo já afetam alojamento de aves

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A recessão econômica no Brasil e a disparada dos preços do milho no mercado interno devem provocar uma redução relevante da produção de carne de frango no segundo semestre, o que pode acelerar a inflação de alimentos no país.

 

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, o ajuste de oferta necessário para recuperar a rentabilidade da indústria de aves tende a levar a uma redução de 15% nos alojamentos de pintos de corte - as aves que são criadas e abatidas após cerca de 45 dias.

 

A redução de 15% no número de pintos de corte alojados nas granjas significaria uma diminuição de 1,5 milhão de toneladas na produção de carne de frango, afirmou Turra. No ano passado, a produção do segmento no Brasil totalizou 13,1 milhões de toneladas, segundo a ABPA.

 

Na avaliação do secretário-executivo da Associação Brasileira de Produtores de Pintos de Corte (Apinco), José Carlos Godoy, a avicultura atravessa um quadro de crise inédito. "É uma situação que a avicultura nunca enfrentou. Sempre tivemos problemas, ora de consumo, ora de [escassez] de matéria-prima", disse Godoy.

 

A diferença da atual crise, ressaltou, é a combinação de preços elevados do milho e demanda fraca no Brasil. Diante disso, os reajustes de preços para compensar a alta dos custos de produção - o milho é o responsável por cerca de 60% da ração - esbarram na resistência do consumidor.

 

Além disso, a indústria brasileira foi surpreendida pela persistência dos preços elevados do milho. No acumulado deste ano, a saca do cereal em São Paulo subiu 46,3%, de acordo com o indicador Esalq/BM&F Bovespa.

 

No fim do primeiro trimestre, muitos esperavam que os preços do milho - puxados pelo forte ritmo das exportações e pela alta do dólar - cederiam, com a proximidade da colheita de milho de segunda safra. Mas não foi o que aconteceu porque o clima afetou a safra de milho e, nesses últimos dias, as chuvas vêm atrasando a colheita do cereal.

 

"Não aconteceu nada em março porque se assinalava que o preço do milho iria cair. Mas não se viu nada disso", disse Godoy. À espera da queda dos preços do milho, a indústria não reduziu os alojamentos nos primeiros quatro meses do ano. Pelo contrário. Entre janeiro e abril, o número de pintos alojados cresceu 5% na comparação anual, para 2,2 bilhões, conforme a Apinco. Esse movimento agravou a situação, gerando excedente de oferta de frango.

 

Para reduzir a oferta, a catarinense Coopercentral Aurora Alimentos, terceira maior produtora de carne de frango do país, vai reduzir os abates de aves em 7% a partir de julho. Para isso, dará férias coletivas para cerca de 700 funcionários do abatedouro de Abelardo Luz (SC).

 

"Hoje, um quilo de sobrecoxa está mais barato que um litro de água", lamentou o presidente da Aurora, Mário Lanznaster. Segundo ele, a combinação entre alta dos cotações do milho e oferta excessiva de frango no mercado interno derrubou as margens da cooperativa para praticamente zero este ano.

 

Além da Aurora, outras indústrias decidiram reduzir a produção. A JBS, que encerrou o contrato de fornecimento que tinha com o frigorífico Minuano, fará o mesmo com o contrato que tem com o frigorífico Nicolini, de Garibaldi (RS). Procurada, a JBS não se manifestou até o fechamento desta edição.

 

Fonte: Valor Econômico - Luiz Henrique Mendes